Entrevistado pela Úrsula, o escritor e agitador cultural Marcelino Freire compartilhou alguns dos conselhos que ele transmite nas oficinas culturais que vem ministrando há 20 anos – oficinas das quais já saíram autoras de destaque como Carol Rodrigues (de quem temos um texto aqui no Criadouro) e Aline Bei. Veja abaixo se alguma dessas dicas pode ser integrada à sua prática.
- A escrita é feita de vida
Antes de tudo, viver. Então, criar. Marcelino ressalta o papel da experiência como nutriente do texto: “Escrever é viver. A vida é a melhor mestra. Sabe tudo e não sabe nada”. Isso exige do escritor que se coloque onde pode ser alimentado pelo mundo: “Vai no Mercado São José escutar as vozes que estão vendendo coentro, que se esguelam para vender seriguela”, sugere ele.
- Rastreie e elimine o clichê
Sem dó com o que não é novo: “Coloca a tua frase no Google. Se o Google escrever antes a frase, troque a frase que ela está ruim. O Google tem nos ajudado a escrever. Ele localiza o lugar-comum”. Poderíamos também dizer: se o ChatGPT ou similar consegue fazer, o que temos de fazer é outra coisa… se seguimos Marcelino, o texto literário deve ser esse espaço da surpresa.
- Dialogue com os seus iguais
Outra coisa que o Google faz, diz o escritor, é nos por em contato com aqueles que trabalham no mesmo sentido que nós. A busca “localiza seus parceiros e parceiras”, nota ele, e orienta: “Coloca lá ‘escritoras travestis no Equador’. O Google localizará. Entre em contato com essas escritoras, troque ideias, faça pontes”. Que intercâmbios podem aperfeiçoar o que você escreve?
- Bisbilhoteie o seu personagem
Entendemos as pessoas que nós mesmos criamos? Sabemos como agem, do que gostam, como reagem a tais e tais situações? Vai no sentido de nos aproximar das nossas criaturas esse macete: “Faça listas. Escreva dez itens que seu personagem carrega dentro da mochila. Você já pensou na mochila do seu personagem?”. E outras questões assim podem ser feitas…
- Vá aonde as palavras te esperam
Marcelino te quer onívoro: “Leia muito”, aconselha ele, mas não só literatura; também “arquitetura, botânica, mecânica, jardinagem”… E não pare por aí: busque palavras fora dos livros: “Vá ao cinema pornô. Há palavras que estão lá esperando por você”. Que outros lugares podemos adicionar como fontes de palavras? Onde você já encontrou palavras e onde projeta que poderá encontrar novas?