O psicanalista e escritor Contardo Calligaris (1948-2021), em entrevista à Capitu – revista antepassada de Úrsula –, expressou um pouco de como entendia a escrita de ficção: nela, há uma abertura para descobrirmos sentimentos e vivências, para elaborarmos em nós possibilidades. Contudo, o escritor não dá dicas, lições, receitas:
Claro que quero que meu livro faça parte do livro interior do leitor, mas é a palavra ‘ensinamento’ com a qual eu não concordo. Contar uma história é muito diferente do que transmitir idéias ou ensinamentos. Não quero que ninguém pense como eu. Ao escrever um livro de ficção, eu quero, como acontece quando se conta uma boa história, que essa história faça parte da história dele, de quem lê. É diferente do que transmitir um ensinamento.
Nessa relação que não é de passar conteúdos ou de prescrever práticas se abre, contude, uma potência, que
[…] depende de como ele [o leitor] integra aquilo na sua própria história. Ele pode integrá-lo de mil maneiras diferentes. Eu não acho que o meu propósito, que tenha um propósito, de ‘vou ensinar os tímidos a ousar amar’. Se um leitor, graças ao livro, se autorizar a amar, tanto melhor.
Como isso se dá na sua criação? Como entende aquilo que o seu livro transmite – não são ensinamentos ou são? Ou são outra coisa? E o que espera que ocorra no contato da sua obra com o leitor?
Leia a entrevista completa com Contardo, em que ele fala também de como o cinema nos ensinou a amar.