Uma Epidemia de Filosofia

Proposta de criação: escreva uma história cujo pano de fundo ou elemento importante seja uma epidemia de filosofia.


Em 5 de julho de 1885, o New York Times publicou um texto com toda aparência de notícia jornalística chamado simplesmente “Filosofia”. O tema era a iminência de uma epidemia que atingiria Concord, cidade do estado de Massachussets, nos Estados Unidos. Não se trata de uma doença usual, porém: “É considerado como certo”, começa o autor, “que uma epidemia de filosofia vai se abater sobre Concord neste mês, e as autoridades da saúde locais na prática confessaram sua incapacidade de impedi-la”.

A filosofia, prossegue ele, há muito aflige Concord, que, após ações de saneamento básico, pensou estar prevenida:

Como é sabido, Concord foi por muitos anos devastada pela filosofia todos os verões. Nenhuma medida conhecida pela materia medica parece ter tido qualquer efeito, e finalmente os alarmados cidadãos perceberam que sua única expectativa de segurança adviria de aperfeiçoar a rede de drenagem da cidade. A que eles possuíam era notadamente defeituosa, e muitos respeitados especialistas em saneamento concordavam que os ataques anuais da filosofia eram devidos à má drenagem. Concord gastou uma pesada verba em um sistema de esgoto completamente novo, e, por um tempo, as condições de higiene do lugar foram bastante melhoradas. A filosofia não foi totalmente erradicada, é verdade, mas nos últimos dois anos a epidemia anual fora muito menos violenta do que em anos anteriores. Casos de filosofia apareceram vez ou outra nos tempos frios do ano, mas foram pouco agressivos e não parecem ter sido contagiosos. Acreditou-se que a causa da filosofia tinha sido descoberta e que Concord iria, com o tempo, livrar-se dela. Podemos entender, assim, o desânimo com que Concord recebeu o alerta de que uma epidemia de filosofia está próxima. Um grande número de casos ocorreram recentemente, e apesar de todos os esforços da secretaria de saúde local a doença se espalhou tanto que está agora fora de controle.

Não é o esgoto, conclui o articulista, para argumentar por outra causa da disseminação da filosofia: “Cidades com distribuição de água ruim são muito aptas a serem enfestadas de filosofia”, afirma, e passa a listar cidades e crises: Nápoles, na Itália, cujo sistema de abastecimento, segundo ele, teve por séculos má fama, “foi assolada pelas filosofias virulentas de Espinoza e Giordano Bruno”; e Saint Louis, também nos Estados Unidos, “onde o fornecimento de água não está acima de suspeita, um surto de filosofia ocorreu há alguns anos que culminou no estabelecimento de uma revista de filosofia, a qual ainda flagela essa cidade desafortunada”. O “bacilo filosófico” defende ele, contamina as reservas aquáticas de um território e se espalha se nenhuma medida – isolamento, desinfetação – for tomada.

Que histórias podem ser criadas com esse cenário, nesse mundo em que a filosofia é uma doença? Criações nesse sentido podem elaborar mais traços que são apenas sobrevoados no artigo do New York Times: quais os efeitos da contaminação por filosofia? Se for descoberto um produto capaz de erradicar a filosofia, qual seria? Quais os tratamentos possíveis contra o bacilo filosófico?

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