Livro de Partida | Davi Paiva, “Cavaleiro Negro”

Ser escritor envolve uma carga massiva de leituras, estudos, escritas, reescritas, resiliência e paixão

Livro de Partida convida autores de primeira obra lançada a falar sobre ela, sobre sua produção, edição, publicação

Davi Paiva, “O Cavaleiro Negro”

“A Jornada do Herói só cria heróis?”

Foi procurando responder a perguntas como essa, formuladas por mim mesmo, que surgiu o meu primeiro livro solo publicado, Cavaleiro Negro.

Escrever é mais fácil do que parece. Qualquer um pode escrever um relato de sua vida, inventar fatos sobre um vizinho ou uma celebridade ou quem sabe criar um mundo fantástico onde aconteçam diversas aventuras.

Qualquer um pode escrever. Já ser um escritor envolve uma carga massiva de leituras, estudos, escritas, reescritas e uma resiliência misturada com paixão por aquilo que faz para começar o primeiro capítulo e ir até o tão desejado “fim” no final do livro.

E foi acreditando nisso que comecei a estudar para escrever melhor. E nesse meio tempo, conheci a minha amada Jornada do Herói e me fiz a pergunta com a qual abro esse artigo.

Claro que a resposta já havia sido dada por outros criadores de narrativas: do mafioso Michael Corleone ao anti-herói Deadpool, a mais famosa estrutura narrativa mostrava que servia para falar sobre a transformação física, mental, social e espiritual de qualquer pessoa: o rico fica pobre, o burro fica inteligente, o solitário se casa e o religioso pode virar um ateu ou um líder dentro de sua doutrina.

Sempre digo a todos: “Escreva como se fosse morrer esta noite, pois todos precisam entender o seu texto amanhã”

Cavaleiro Negro foi a minha forma de responder. Envolveu a inspiração em mundos fantásticos como a Terra Média de J.R.R. Tolkien ou o Arton de Marcelo Cassaro, a inspiração em um guerreiro de armadura e usuário de magia tal qual os dark knights do jogo Final Fantasy Tactics para PSP, além de leituras que podem parecer estranhas para um produtor de literatura fantástica medieval (trilogia A Mão Esquerda de Deus, de Paul Hoffman; O Conde de Monte Cristo; O Monge e O Executivo; e O Príncipe).

Contudo, não era uma resposta que eu queria dar somente a mim. Eu queria compartilhar com parentes, amigos e quem mais quisesse ler. Portanto, me esforcei para que o texto fosse claro a todos. Sempre digo a todos: “Escreva como se fosse morrer esta noite, pois todos precisam entender o seu texto amanhã”. Fiz uma primeira página que prendesse o leitor, capítulos curtos para serem lidos rapidamente atendendo a uma demanda nacional de informação dinâmica e cliffhangers bem posicionados para que os leitores mais assíduos pudessem gastar mais tempo em leituras.

Não foi fácil começar a escrever um livro desses entre a metade de 2014 e quase o fim de 2015. O planejamento do que ia acontecer no livro inteiro exigiu um resumo, que foi dividido em arcos, que deu origem aos capítulos e justificou cada uma de suas cenas, em um planejamento que foi do macro ao micro e precisou de muitos arquivos em um computador defeituoso que unia palavras no Word (uma dor de cabeça para a revisão) e rabiscos em folhas sulfite. Seja como for, eu me sentia feliz a cada avanço. Postava um ou outro trecho escrito em redes sociais e sempre comemorava o término de cada um dos sete arcos do livro.

Vivemos em um mercado capitalista. E eu não estou vendendo o meu sonho. Estou vendendo um produto. E, como todo produto, a editora e eu procuramos torná-lo o melhor possível na capa, revisão, diagramação e conteúdo. O que entregamos a vocês é o melhor que pudemos

Ao terminar o livro, mostrei a obra a leitores beta. Procurei voluntários especialistas em literatura fantástica medieval assim como pessoas que não tivessem experiência no ramo, para criar um livro que pudesse ser apreciado por veteranos assim como fazer inserção de novatos. Muitos conselhos foram úteis. Em poucos casos eu tive que separar o joio do trigo onde era aconselhado a fazer coisas que desvirtuariam a obra. Seja como for, valeu a pena. Tenho um mantra: para uma pessoa ser escritora, ela precisa fazer cinco coisas, ler, estudar, escrever, expor e reescrever. E esta última etapa exige resiliência e, infelizmente, não é muito aplicada. O que acaba gerando autores mimados que acham capazes de criar uma obra “perfeita” na primeira escrita.

Cavaleiro Negro não é só um livro de um autor negro e morador da periferia paulistana. Também não é só um livro de literatura fantástica medieval com teor violento sem o exagero de George R. R. Martin. Muito menos é só uma obra de 360 páginas fechada (ou seja, sem continuação. Pretendo escrever mais narrativas no mundo de Raysh, onde a história se passa, mas elas não dependerão que os leitores já tenham lido a jornada do Cavaleiro).

Se ele não é nada disso, o que ele é?

Simples. Cavaleiro Negro é… um produto.

Vivemos em um mercado capitalista. E eu não estou vendendo o meu sonho. Estou vendendo um produto. E, como todo produto, a editora e eu procuramos torná-lo o melhor possível na capa, revisão, diagramação e conteúdo. Não somos perfeitos e estamos aprendendo muito. Todavia, o que entregamos a vocês é o melhor que pudemos até agora.

E esperamos que gostem, pois se eu tivesse que refazer tudo que fiz por esse livro… valeria a pena como valeu até agora.

Obrigado a todos(as).

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